A perda de um eu...
“Sinto a tua falta…mas não te posso dizer! És mau…e por isso não gosto
de ti. Quer dizer…gosto, e gosto muito. Mas não quero. Por isso vou dizer a mim
mesma até que se torne a verdade mais absoluta do mundo…Eu não gosto de ti!
Assim eu vou acreditar…e tu também. E todo o mundo vai saber… que eu já não
gosto mais de ti.”
Vivemos constantemente nesta
dualidade de emoções… eu quero, mas não posso. Eu posso mas não quero! Não é
por mal, não é para nos fazermos de fortes…é uma defesa. E cada vez mais nos
defendemos, pois assim evitamos ou minimizamos a dor, todo e qualquer tipo de
sofrimento, que nos desgasta, que nos corrói, que nos torna seres humanos mais
duros, menos sensíveis…diria até menos tolerantes.
Ninguém nos ensina a amar…ninguém
nos explica que por vezes causa mágoas, abre feridas que não sabemos como
cicatrizar e que nem o tempo, como às vezes falam, é suficiente para fazer hemóstase.
Devia haver uma disciplina leccionada desde cedo, que nos ajudasse a desenvolver
mecanismos de coping para a dor, para lidar com a morte e com a perda. Não só
dos outros, mas muitas vezes com a perda de nós mesmos.
Em conversa com a minha amiga S.,
esta dizia-me que tinha perdido um eu. Um que só existia naquele relacionamento
que terminou. Tinha saudades desse eu, mas não o podia recuperar. Perdeu um
fragmento dela mesma…
E como se lida com a perda de um
pedaço de nós. A perda do outro é dolorosa, mas a perda de nós mesmos… pode ser
avassaladora. Mesmo que seja só uma parte… “um comigo de mim”, como diria
Fernando Pessoa, não deixa de nos afectar, não deixamos de precisar de fazer o
luto…e isso leva tempo, causa dor e amargura…e transforma-nos.
Vivemos em constante mutação…mas
nem sempre estamos preparados para as transformações que sofremos.
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